Entenda o que é fotofobia e qual a relação com as crises de enxaqueca
Fotofobia, ou a sensibilidade anormal à luz, indica um sintoma bastante comum e debilitante que pode estar presente em diferentes distúrbios oftalmológicos e neurológicos1.
Em diversos casos há uma relação entre sensibilidade à luz nos olhos e dor de cabeça, tanto que fotofobia costuma ser relatada em quase todas as formas de enxaqueca, sendo um dos principais critérios para o diagnóstico dessa doença, como cita a Classificação Internacional de Cefaleias1.
A seguir, buscamos entender melhor o que é fotofobia, qual a sua relação com a enxaqueca e outros fatores que podem estar relacionados à aversão à luz.
O que é fotofobia?
Em linhas mais gerais, fotofobia é a aversão à luz. Entretanto, a literatura médica tem outras definições para o termo2:
sensibilidade anormal à luz2;
desconforto ocular2;
agravamento de dor de cabeça pela luz2.
De qualquer forma, há um incômodo considerado anormal na presença de iluminação1, e dois pontos da estrutura dos olhos estão envolvidos nisso:
cones e bastonetes (vias visuais formadoras de imagens): são os dois tipos de células que recebem luz1,3. Os cones são responsáveis por enxergarmos colorido, enquanto os bastonetes pela visão noturna ou em ambientes pouco iluminados3;
melanopsina (vias visuais não formadoras de imagens): é um tipo de pigmento de células fotorreceptoras (sensíveis à luz) que não resulta em formação de imagens4. Essas células são estudadas como corresponsáveis pelo sintoma de sensibilidade à luz, e foram identificadas na retina e na íris1.
Toda essa sensibilidade à luz pode resultar em dores de cabeça e outros incômodos. Alguns pesquisadores acreditam que a fotofobia tem relação com o sistema límbico (ligado às emoções e à memória) e, por isso, quem enfrenta essa condição pode sentir um desconforto emocional que leva a evitar a luz5.
A fotofobia ainda é entendida e descrita como uma dor ou um desconforto no olho decorrente de uma fonte de luz que não deveria ser dolorosa ou desconfortável em circunstâncias normais5.
Sintomas de fotofobia
Os sintomas relacionados à fotofobia podem depender da causa do problema. Por exemplo, a exposição à luz durante a enxaqueca pode desencadear sintomas associados entre os dois, como2:
funções cognitivas comprometidas2;
declínio transitório da memória de curto prazo2;
coordenação motora prejudicada2;
declínio transitório na capacidade de manter a atenção2;
percepção anormal de luz, cor e imagens visuais2;
maior sensibilidade ao som e ao olfato2.
Porém, a fotofobia não está presente apenas em casos de enxaqueca. O que nos leva ao próximo item.
O que causa fotofobia?
Pois bem, todo o incômodo diante de uma luz pode ser resultado de diversas condições médicas diferentes, relacionadas a doenças oculares, distúrbios do sistema nervoso central (SNC) e distúrbios psiquiátricos1,2,5. Para começar, vamos entender melhor a questão fotofobia e enxaqueca.
Afinal, qual a relação entre fotofobia e enxaqueca?
A fotofobia é considerada um sintoma comum em diversas cefaleias primárias (quando a dor já é a doença, não há outra origem relacionada), e a enxaqueca faz parte desse grupo5.
Assim, fotofobia e enxaqueca têm uma relação direta. De 80% a 90% dos pacientes com enxaqueca apresentam fotofobia, número maior do que em qualquer outra dor de cabeça primária5. Pessoas com enxaqueca costumam sofrer com fotofobia durante e entre as crises5.
Estudos apontam que o estímulo luminoso relacionado à fotofobia pode favorecer a sensibilização das vias relacionadas à dor em pacientes com enxaqueca, podendo contribuir para a progressão de formas crônicas da doença5.
Evidências experimentais indicam também que a fotofobia é, sobretudo, bilateral, ou seja, é estimulada igualmente por ambos os olhos, mesmo quando a dor de cabeça for unilateral nas dores de cabeça primárias, como é o caso da enxaqueca5.
Alguns aspectos da relação entre fotofobia e enxaqueca seguem sendo estudos, como em pacientes cegos, por exemplo. Por conta da função da melanopsina nas vias visuais não formadoras de imagens, mesmo esses pacientes com deficiência visual (devido à completa falta de função de bastonetes e cones) ainda apresentam sinais de sensibilidade à luz5.
O que mais pode causar fotofobia?
Agora que já entendemos a íntima relação entre fotofobia e enxaqueca, é hora de nos aprofundarmos sobre outras condições que podem desencadear essa incômoda sensibilidade à luz. Podemos dividir essas causas em duas categorias principais:
blefaroespasmo: doença associada ao piscar, apertar e fechar involuntários das pálpebras. Acredita-se que pode estar relacionada a um desequilíbrio nas vias relacionadas ao reflexo de piscar no tronco cerebral1;
paralisia supranuclear progressiva: é uma síndrome relacionada ao Parkinson que inclui paralisia do olhar, além de fotofobia1;
traumatismo craniano: essa lesão cerebral traumática pode se manifestar com disfunção visual, incluindo aumento da sensibilidade à luz, sendo a fotofobia uma das queixas visuais mais comuns5.
2. Doenças oculares que têm a fotofobia como sintoma
A lista é extensa. Veja abaixo alguns exemplos:
abrasão da córnea: lesão que pode acontecer quando a camada mais externa do olho entra em contato com partículas de areia, sujeira, metal ou outras substâncias, o que pode embaçar a visão, provocar vermelhidão, dor ou queimação6;
conjuntivite: a inflamação da membrana que cobre a parte branca do olho causa dor, ardência, vermelhidão, irritação e sensibilidade à luz. A conjuntivite em como causas principais infecções bacterianas, produtos químicos e alergias7;
glaucoma: envolve doenças que podem prejudicar o nervo óptico, causando aumento da pressão do fluido dentro do olho, sendo a fotofobia um dos sintomas associados7,8;
catarata: a fotofobia surge por conta das alterações no cristalino dentro do olho8;
ceratocone: causa alterações na forma, na força e na espessura da córnea8;
calázio: é resultado da formação de uma protuberância no olho devido ao entupimento de uma glândula sebácea ou glândula meibomiana, o que leva à dor na pálpebra, calor, ardor, vermelhidão e sensibilidade à luz7.
Outras possíveis causas
uso excessivo de lentes de contato7;
trauma ou queimaduras nos olhos7;
meningite7;
pós-operatório de cirurgia ocular7;
consumo de drogas7.
Como reduzir o desconforto da fotofobia?
Diante da aversão à luz e outros desconfortos, o melhor é procurar um médico. Uma consulta com um oftalmologista é essencial para entender o caso e descartar qualquer problema ocular7. Um neurologista também pode ser consultado em casos de sensibilidade à luz e dor de cabeça, já que é esse médico que cuida de quem sofre com enxaqueca9.
De forma geral, você pode tentar reduzir o desconforto causado pela fotofobia com algumas atitudes simples. Evite exposição ao sol e, quando tiver que se expor, use óculos escuros e chapéu. Em casa, mantenha o ambiente escuro7.
Além disso, evite o uso constante de lentes de contato. Se você usa óculos, pode optar por lentes fotocromáticas, que escurecem ou clareiam dependendo da quantidade de luz externa7.
Sempre siga as orientações e o tratamento indicado pelo seu médico, ok?
